sábado, 8 de março de 2008

Nome Esquisito

Depois de purgar um tempo sem aqui me expressar, curvando-me ao peso dos compromissos, volto a trazer aqueles causos que recheiam a história política de nosso estado. A de hoje, quem me contou foi o Rui, fotógrafo do antigo Serviço de Imprensa de Pernambuco, da época em que registrava os eventos oficiais do governo Moura Cavalcanti.

Oriundo da Mata Norte, Moura sempre deu a maior atenção àquela região. Durante seu governo, o município de Vicência recebeu muitos melhoramentos, incluindo estradas vicinais que davam acesso aos distritos e povoados.

Na equipe de Moura Cavalcanti, a qual integravam personalidades como Luiz Otávio Cavalcanti, Gustavo Krause, Arthur Pio, José Jorge, Joaquim Francisco, dentre outros, havia também um engenheiro de nome Fuad Hazin, diretor do DER, responsável pelo programa de estradas em Pernambuco. Fuad era um dinâmo para trabalhar e tinha fama de não atrasar obras, chegando, inclusive, a antecipar a conclusão prevista.

Havia um povoado em Vicência que ficava isolado durante o inverno por causa do rio Siriji e do lamaçal que se acumulava na estrada que lhe dava acesso. De tanto pedirem, Moura mandou elaborar um projeto de pavimentação e realizar a obra. Por causa dos prazos de licitação, a obra só foi iniciada em fevereiro e logo veio o inverno, transformando o trabalho da construtora um martírio.

Graças ao empenho de Fuad Hazin, a obra foi executada no prazo previsto, mas exigiu muito sacrifício, obrigando-o a muitas vezes fiscalizá-la pessoalmente.

Terminada a estrada, uma grande festa foi programada para a inauguração, com direito a um carro-pipa cheio de aguardente para a piãozada.

Moura chegou saudado por fogos de artifício, banda de música e aplausos da população agradecida.

Para os discursos foi montado um palanque na única rua do povoado. O primeiro a falar foi um vereador filho da terra. Vestido com um terno dois números maior que o que lhe cabia, visivelmente 'tocado' pela branquinha, assim começou a fala:

- Dotô Moura, o sinhô num sabe a alegria danada que a gente tá sentino por essa estrada que só o sinhô mermo era capai de fazê...

- O sinhô só não, pruquê se não fose aquele ali (apontando para Fuad Hazin), noi num tava aqui nessa festa...

- Pur isso, eu peço uma sarva de palma pro dotô FODE ASSIM!

O constrangimento foi geral e Moura mandou que tomassem o microfone do homem. Sentindo que todos ficaram olhando para ele de modo estranho, o vereador perguntou:

- Eu dixe argunha bestera, foi?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Algumas notas

O Santa Cruz cansou de usar os métodos tradicionais para resolver da falta de vitória e passou a adotar a FITOTERAPIA. Resta saber se as ervas que serão usadas não são venenosas ou inócuas.
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Diálogo entre Carlinhos Bala e o árbitro assistente:

Bala: "Ô cara, como é que tu tem coragem de dedurar o astro do time... tás querendo perder o emprego, morta-fome?"

Árbitro: "Tu és lá astro...Tu és uma estrela apagada. Volta pra Ceasa, que é o teu lugar, malandro."

Bala: "Tás pensando o quê? Eu sou é bilheteria e meu salário dá pra pagar cem bandeirada tua... vai pegar teu ônibus periferia, que eu vou pegar meu carro importado."

Árbitro: "Nós temos o apito e a caneta, bossal... Você vai ver o que é bom pra tosse quando a gente fizer o relatório."

Bala: "Pode escrever as tuas merdas que lá no Tribunal eu e os homem vamos derrubar tudo que vocês inventaram!"

Árbitro: "Sabe de uma coisa: não vou perder tempo discutindo com um cara analfabeto como tu..."

Bala: "Analfabeto, preto, famoso e rico!" (Disse isso e saiu gesticulando para o antigo bandeirinha).

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Desde o ano passado que o Governo do Estado não repassa o dinheiro referente ao programa Todos Com a Nota para os clubes que estão disputando o Campeonato Pernambucano. Ouvi um presidente de clube dizendo que o governo Jarbas não atrasava um dia se quer. Com a palavra o governador Eduardo Campos.

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Se o jogador Adriano deu uma cabeçada no jogador do Santos, Domingos, recebeu o cartão vermelho e a televisão mostrou exaustivamente a agressão e acabou sendo punido apenas com dois jogos de suspensão, por que não esperar a mesma punição para o jogador Marcelo Heleno, do Santa Cruz, que teria agredido moralmento o árbitro, já que não tem imagens e som para comprovar as ofensas? Basta um bom advogado com uma boa peça de defesa que desqualifica o artigo que ele estaria incurso. Afinal de contas, é a palavra do árbitro conta a do jogador...

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Quem quiser ver Carlos Alberto Oliveira, presidente da FPF, uma fera pergunte sobre o regulamento do campeonato pernambucano.

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O pessoal do Sport já abriu as baterias contra o chefe do departamento de arbitragem da FPF, Valdomiro Matias, por ele ter colocado nos sorteios dos jogos do Sport o juiz Emerson Sobral. No último jogo o Sport venceu de 8 x 0. Imaginem se tivesse perdido?

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O Sete de Setembro, quando veio jogar com o Sport aqui na Ilha do Retiro, os jogadores vieram de Garanhuns de vans e comeram sanduiches antes do jogo. Assim mesmo, deram um calor no time rubro-negro. Como jogariam se tivessem as mordomias dos grandes clubes, hein?

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O Santa vai gastar uma fortuna para trazer uns dinossauros para reforçar o elenco. Por que não resolver o problema com a "prata da casa". Pra não ganhar título, é melhor não se individar!

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O Santa já deu vexame no primeiro jogo da Copa do Brasil. O Náutico se deu bem e o Sport joga pra semana. E o Central, será que vai decepcionar como o Porto e o Vera Cruz fizeram na terceirona?

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O Sport dissolveu o time feminino de basquetebol, que foi o quarto colocado do certame nacional. Pelo jeito, se ficasse entre os últimos o basquete seria riscado da Ilha.

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Perguntar não ofende: Por que o Náutico não aproveita os atletas revelados nas categorias de base no time profissional?

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Por que o Sport pagava 40 mil reais por mês a um jogador limitado como Adriano Gabiru e não pode gastar a mesma quantia na construção de um centro de treinamento?

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Dizem que o Náutico tá pagando apenas os vales ao seu elenco e que o treinador Roberto Fernandes tá com os salários (R$ 80.000,00 por mês) bastante atrasados. Eduardo também tava. Ameaçou ir embora e o dinheiro apareceu. Quem não chora, não mama!

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O "Sindicato" tá denunciando uma panelinha dentro do elenco do Sport. Cuidado, Nelsinho!!!

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O treinador Zé do Carmo tá calado, mas se falar o que sabe... sai de baixo!

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E o Sport? Vendeu e agora tá comprando tudo de volta. Já voltaram Dutra, Luciano Henrique, vem aí Vitor Júnior e Fumagalli chega em julho. Pelo jeito, o rubro-negro vai repetir o time do ano passado.

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Dizem que o prestígio do tetracampeão do mundo, Ricardo Rocha, está em baixa no Santa. Jogadores que ele trouxe foram embora e o técnico Zé do Carmo foi demitido pela imprensa. Te cuida campeão!

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O presidente Milton Bivar, ao assumir o comando do Sport, prometeu que logo, logo inauguraria o centro de treinamento e até agora nada. Vai ficar na promessa, presidente?

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Antigamente o Santa Cruz só perdia para o Sport ou Náutico em partidas do campeonato. Agora...

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Acosta deu um calote no Náutico, mas as "viúvas" do uruguaio ainda sonham com a volta do gringo. Jogador de futebol tem que ter honradez e palavra. Deve, tem que pagar.

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Roberto Fernandes anda tão empolgado com o sucesso, que tá assumindo pose de galã de novela. Um passarinho me contou que ele só dirige o Náutico até o final do campeonato pernambucano e dopois se manda.

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Nelsinho Batista, quando dirigia o Coríntians, entrevistado por um repórter de televisão após a derrota para o Sport Club do Recife, deu a seguinte explicação sobre o fracasso o time naquele jogo: "É, esses times pequenos quando jogam contra os grandes, complicam bastante."
O time pequeno a que se referiu era o Sport. E agora Nelsinho, o Sport é o que?

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Perguntaram ao seu Zé Cobrinha, um tricolor septuagenário, o que ele tava achando do Santa Cruz, perdendo pra todo mundo. Ele respondeu: "Quanto mais apanhado, mais branco, preto e encarnado!"

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POR ENQUANTO É ISSO, DEPOIS CONTO MAIS!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Elogio desqualificado

Marco Maciel tem no trabalho sua principal diversão. Durante a semana trabalhava dezoito horas por dia no Palácio do Campo das Princesas e nos sábados e domingos viajava para o interior a fim de inaugurar obras.

Num domingo à tarde, aproveitando a presença em Pernambuco do saudoso Aloísio Magalhães, resolveu inaugurar o Mercado das Artes, em Tracunhaém, grande celeiro de ceramistas. Com a presença de grande público e por ser ano de eleição, o então prefeito sugeriu que os discursos acontecessem num palanque previamente armado junto à igreja matriz, o que não agradou ao pároco local, notoriamente engajado aos movimentos operários e ligado ao então recém criado PT. Depois de muita negociação, ficou acertado que o ato terminaria às dezoito horas para não comprometer a missa.

Católico praticante, mas não muito afeito a horários, o governador chegou ao palanque quando faltavam quinze minutos para às seis da noite. O padre da cidade reuniu todas as beatas na igreja e assentou-se ao lado altar, conferindo o relógio de instante em instante.

Marco Maciel, visivelmente nervoso, determinou que só houvesse dois discursos - o dele e o do prefeito. Eu, que era o locutor do governo na época, anunciei imediatamente a palavra do prefeito, que era quase completamente careca e usava um bigodinho tipo zorro, tingido de preto ritinto, que o transformava numa figura caricata. Vendo a multidão na praça, o prefeito aproveitou para fazer apologia da sua administração e se demorava cada vez mais. Nervoso, Maciel apertava os dedos das mãos e pressionava o queixo. Carlos Lapa, político da região, sentindo o drama, disse no ouvido do prefeito:

- Seja breve e elogie o Governo!

Diante da advertência, o prefeito mudou o teor do discurso:

- Meus amigos, quero aproveitar para agradecer a esse homem esquelético de pescoço comprido...

Ao meu lado o governador retrucou:

- Magro sim, esquelético não!

O prefeito continuou:

- ... Esse governador que trabalha dezoito horas por dia e nas caladas da noite vai tirar dinheiro em Brasília...

Marco Maciel virou-se para Aloísio Magalhães e disse:

- Pronto, agora virei ladrão!

Todos no palanque riram e o prefeito, sem graça, encerrou o discurso.

Sentado no altar, o padre esboçou um risinho com gosto de vingança.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

História de campanha política

Essa se passou com, o hoje ministro, José Múcio. Foi ele mesmo que me contou.

A Buchada

Estava José Múcio no gabinete da secretaria de Transportes, Energia e Comunicação do Governo do Estado, quando um grupo político de Sirinhaém, à frente um vereador, foi lhe entregar um convite. Falando em nome de todos, o vereador entregou um convite com a programação da Festa de Santo Amaro, que iria acontecer num distrito daquele município. Ao passar o convite às mãos de Zé Múcio, fez a seguinte ressalva:

- Agora tem uma coisa, Dr. Zé Múcio. Nóis tamo veando um carneiro e domingo vamo prepará uma buchada só pro sinhô, nosso futuro gunverno.

Zé Múcio riu com compreensão, pensou um pouco, olhou a programação e teve uma idéia:

- Olha ai amigos, para a missa eu tenho como ir, agora para o almoço não vai dar porque o governador marcou uma reunião ao meio-dia no Palácio e eu não posso faltar.

Os visitantes se entreolharam meio decepcionados, mas o vereador tentou acalmar dizendo:

- Mais o sinhô vai, num é dotô?

Vendo-se aliviado do compromisso de ter que comer buchada (o prato que ele mais detesta na vida), confirmou a presença e no domingo, lá estava Zé Múcio, acompanhado de assessores, de alguns deputados que abraçavam sua candidatura a governador, da mãe, Dona Cristina, da esposa, dos filhos, dos irmãos, também do Dr. Brennand, tia, enfim, a igreja ficou lotada com o clã dos Monteiro.

Zé Múcio, como sempre, falava com todo mundo, distribuia sorrisos, abraçava os trabalhadores da cana e se portava como um autêntico postulante ao Palácio do Campo das Princesas.

A missa foi muito bonita, o padre era aliado e deu um toque de que estava na hora da Zona da Mata Sul ter um governante e terminou pedindo uma salva de palmas para tão ilustre presença. Terminado o ofício, Zé Múcio foi cercado por jovens, donas-de-casa e pessoas conhecidas, quando chegou o tal vereador do convite, acompanhado do mesmo grupo que esteve no gabinete e foi logo dizendo:

- Dotô Zé Múcio, nóis temo uma surpresa pro sinhô!

Zé Múcio, todo sorrisos, pensando que iria receber alguma coisa que aquela gente humilde viera lhe entregar, quis saber qual era a surpresa, ao que o vereador respondeu:

- Ah Dotô, nóis antecipemo a buchada e vai sê agora, que é pra dá tempo pro sinhô cumê!
Sem saída, lá se foi Zé Múcio pra casa do vereador comer a tal buchada. Quando a iguaria foi servida, o anfitrião fez questão de servir o ilustre convidado, abrindo ele próprio a buchada. Um cheiro ativo de mijo de bode penetrou as narinas do pobre Zé Múcio, que não teve outra alternativa a não ser comer aquela coisa mau cheirosa, que tanto detestava. Ao sair dali, passou meia hora vomitando.

Essa história Zé Múcio me contou dias antes de ter sua candidatura a governador homologada. Valendo-me da nossa amizade e querendo fazer uma brincadeira com o Zé, contei a José Adalberto Ribeiro, colunista político do Diario de Pernambuco, que o prato preferido do candidato era Buchada. Ele prontamente publicou.

Por conta disso, o coitado do Zé Múcio teve que agüentar pelo resto da campanha, a ingrata missão de comer buchada em toda cidade que visitava.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Mais uma

Como disse na primeira postagem, vou me dedicar a narrar aqui algumas situações que presenciei nas minhas andanças pelo Interior de Pernambuco. Essa agora é sobre um colega jornalista.

O Caloteiro

Na campanha política em que Gustavo Krause enfrentou o mito Miguel Arraes aconteceu de tudo. Era uma luta desigual de Davi contra Golias: não tinha transporte, não tinha dinheiro e faltava o povo nos comícios. Krause, com altivez e dignidade, aceitou a missão e a cumpriu com serenidade e sem reclamar. O coordenador da campanha do PFL foi Anchieta Santos, que precisou competência para administrar uma jornada inglória ao lado de um candidato olímpico. Todos que formavam o staff compreendiam a pobreza da campanha e foram complacentes com as dificuldades.

Entre os integrantes da equipe de apoio estava Jeison, o fotógrafo. Profissional competente, apesar da pouca idade, Jeison tinha o hábito de ser boêmio e depois de terminar os trabalhos do dia, saía procurando lugar para se diverir e só chegava ao hotel de madrugada.

Como toda campanha política é uma autêntica maratona, para em curto espaço de tempo cobrir o maior número de municípios possível, a jornada começava logo cedo. Todos deveriam estar à postos logo às sete da manhã. Mas todo dia era um drama para acordar Jeison, que sempre atrasava o primeiro compromisso do candidato. Quando aparecia, estava em péssimo estado e ficava cochilano pelos palanques.

Anchieta tentou convencer o fotógrafo a não agir dessa maneira, mas não tinha jeito. Como não havia tempo e dinheiro para contratar outro, era continuar com o rebelde até o fim, cujo privilégio gerou protestos de outros membros da equipe, que resolveram pregar uma peça no boêmio dorminhoco.

Em Serra Talhada, Krause realizou um grande comício. Após o evento, todos seguiram para o Hotel das Palmeiras, local escolhido para hospedar a comitiva. Como não havia acomodação para todos, parte ficou alojada num motel que ficava defronte ao hotel. Lá ficaram cerca de dez pessoas, incluindo o fotógrafo Jeison. Depois de acertar o valor por telefone, Anchieta entregou o dinheiro a um dos que dormiriam no motel para o pagamento na manhã seguinte.

Acontece que, depois do comício, Jeison logo se enturmou e esticou a noite numa festinha, chegando ao motel por volta das quatro da madrugada. O pessoal, então, preparou o castigo. Como partiriam para Triunfo às sete da manhã, acordaram cedo, retiraram a bagagem e informaram ao responsável pelo motel que o pagamento seria feito por Jeison, que ficou dormindo no quarto número dez, sem um tostão. Ainda comentaram com o gerente que ele tinha o hábito de dar o cano nos hotéis por onde passava.

Lá pela dez da manhã, o "educado" gerente acordou Jeison com pancadas na porta dizendo para ele deixar o quarto em dez minutos ou teria que pagar mais uma diária. Meio atordoado e sem entender o que estava acontecendo, o farrista levantou cambaleando e foi tomar um banho para enfrentar mais um dia de trabalho. Dando por falta dos companheiros de quarto, Jeison conferiu a hora e ficou apavorado. Apressado, se dirigiu ao estacionamento e já ia quase saindo quando o gerente lhe perguntou com "delicadeza":

- Ei cabra, pra onde tu vai assim sem pagar a conta?

E, lembrando da recomendação dos outros hóspedes, adiantou:

- Num vem com enrolada não e paga logo a conta. A tua e a dos outros, que eu sei que eles deixaram o dinheiro com tu!

O pobre Jeison ficou ainda mais amarelo e disse apavorado:

- Que dinheiro? Eu sou fotógrafo de Gustavo Krause e quem paga tudo é Dr. Anchieta. Eu não tenho nem dez centavos aqui, moço!

O gerente chamou dois empregados, que seguraram Jeison e o levaram para a delegacia, denunciando o calote. Ele ficou detido até a comitiva voltar de Triunfo e pagar a hospedagem. O coitado do fotógrafo, chorava feito menino e, explicada a brincadeira, nada foi registrado. Depois do susto, o moço prometeu nunca mais dormir em serviço, acabou com a vida de boêmio e terminou a campanha em que o candidato perdeu mas ele ganhou: aprendeu a ter pontualidade nota dez.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Por que um blog?

Quem me conhece sabe que sou um homem de comunicação. Iniciei no rádio, já escrevi para jornais, estive na TV, para onde voltei recentemente, e agora me aventuro (com relativo atraso) pela internet. Por isso, criei esse blog.
Mas, de que adiante falar, dizer e escrever se não houver a certeza de que estamos sendo ouvidos e lidos? A interativadade é fundamental. É o alimento, o ânimo para continuar e a força que mantém viva a criatividade.
No nosso bate blog, espero manter contato diário com você. "Ouvir" sua opinião, obter o seu retorno. Ah, ressalto logo que aqui não vamos ter as tão populares abreviações ou as palavras estranhamente escritas da nova grafia do internetês. Faço questão de escrever como aprendi nos livros. Se estiver cansado ou com preguiça, não escrevo!
Voltando ao bate blog, quero usar esse espaço para contar algumas passagens curiosas das minhas muitas andanças pelo Interior de Pernambuco. Como, por exemplo, essa...

E Tenho Dito

Em 1982, Marco Maciel renunciou ao Governo do Estado para se candidatar a uma vaga ao Senado Federal. Assumiu o comando o vice-governador José Ramos. O candidato da situação ao Governo era Roberto Magalhães, que ao final venceu a eleição. Na fase de pré-campanha, José Ramos aproveitava as inaugurações para lançar, de maneira indireta, Maciel e Magalhães, que sempre o acompanhavam durante seus périplos pelo Interior.

O palácio organizou uma agenda pesada para uma sexta, sábado e domingo, cobrindo nada menos que quinze municípios com inaugurações e concentrações públicas. Nessa época, eu era o locutor oficial do governador e viajava com a comitiva. Na sexta-feira percorremos os municípios de Cachoeirinha, Lajedo, São Bento do Una e Calçado, tendo o último "comício" terminado por volta da meia-noite. Depois a comitiva pernoitou em Arcoverde, no Hotel Magestic, onde todos se recolheram às duas da manhã. Apesar do dia ter sido tão longo, ficou determinado que às sete da manhã todos deveriam estar no salão de refeições para o café da manhã.

O governador José Ramos se excedera no almoço e no jantar, sendo acometido de uma crise de vesícula ainda duranto o comício. Apesar de medicado, passou uma noite péssima, sem pregar os olhos. Sequer tomou café e embarcou no ônibus visivelmente mal humorado. Partimos para Paranatama, onde às nove horas estava marcada a inauguração de uma agência do Bandepe.

Durante o percurso, José Ramos permaneceu calado e percebia-se, de vez em quando, o seu rosto se contrair com as dores. Ao chegar, antes de descer do ônibus, o governador me chamou e deu a seguinte ordem:

- Olha Walter, aqui só falam eu e o prefeito e mais ninguém. Já falei com Marco e Roberto que não estou me sentindo bem e que vamos demorar muito pouco nesta inauguração. E você trate de não falar muito. E é só!

Recebi a ordem e fui direto para o Bandepe, onde fui o mais sucinto possível na solenidade. Apesar do frio e da chuva, o prefeito levara muita gente para a inauguração. Seguindo a ordem, anunciei imediatamente a palavra do prefeito, que iniciou o seu discurso:

- Excelentíssimo senhor governador, senhor Marco Maciel, futuro senador. Dr. Roberto Magalhães, futuro governador. Deputado fulano, deputado beltrano, senhoras e senhores.

Dizendo isso, tirou do dolso do paletó um calhamaço de umas doze páginas com o discurso dele escrito. Quando se preparava para ler, José Ramos, mais do que depressa, arrancou as laudas das mãos do prefeito, que ficou estático e sem saber o que estava acontecendo. José Ramos disse, então, ao perplexo orador:

- Deixe que o discurso eu leio em casa!

Completamente atordoado e sem ter o dom do improviso e ainda sob o impacto do gesto do governador, olhou para a platéia, onde só alguns conseguiram conter o riso e disse laconicamente:

- É, minha gente... É.. É... E tenho dito!